Recentemente ocorreu um grande inconveniente que me deixou por alguns dias muito abalado, mas por outro lado me levou a concretização de algo que há uns dois anos planejava com uma certa ingenuidade, a compra deste disco . Já que faz algum tempo que não postava nada, pensei então, por causa deste ocorrido, em falar um pouco deste "grupo" que durante muito tempo foi ignorado e só de uns anos para cá tem sido levado em consideração como um dos mais interessantes a surgir nos últimos vinte anos.
Apesar de ter várias formações ao longo de sua história, o Earth é sem dúvida, produto da fértil imaginação musical de seu único membro fixo: Dylan Carlson. Personagem as vezes errático e de caráter imprevisível, mais famoso por ser o melhor amigo de Kurt Cobain e ter comprado a arma que ele usou em seu suposto suicídio. Carlson, assim como seu companheiro, teve vários problemas legais e fases difíceis com drogas, que explicam seu suposto sumiço na segunda metade dos anos 90 até a sua volta com o "novo" Earth em 2005. Sua única aparição nesta fase pode ser vista no documentário "Kurt & Courtney" de Nick Broomfield, onde ele surge claramente alterado. (Veja aqui).
Mas voltando agora a música. O som produzido pelo Earth no inicio de sua carreira (como pode ser ouvido no EP "Extra-Capsular Extraction" e no disco "Sunn Amps and Smashed Guitars" ) era extremamente pesado e minimalista, algo semelhante ao que os Melvins já faziam há algum tempo. A grande reviravolta foi quando os vocais (que quase não existiam) e a bateria foram excluídos. O resultado é o disco "Earth 2 Special Low-Frequency Version", lançado em 1993 pela Sub Pop em pleno auge do movimento grunge. Apesar de na época não ter feito sucesso algum e boa parte da crítica ter ficado com um ponto de interrogação na cabeça, atualmente se considera este um dos disco fundamentais na evolução da música como um todo e se provou extremamente influente no desenvolvimento de grupos como Boris e principalmente o Sunn O))) que iniciou sua carreira como uma banda tributo ao Earth.
A música em si pode ser definida como uma versão bem mais lenta e distorcida das obras que compositores como La Monte Young e Tony Conrad produziam nos anos 60. O foco principal está em tons estáticos e nos efeitos acústicos produzidos a partir dos harmônicos dos mesmos que podem ser melhor percebidos em volumes altos, mas muito altos mesmo. ( OBS: caso queira ouvir este disco, faça um favor a si mesmo e consiga um bom som estéreo, ouvir isso em caixas de som de computadores ou i-pods é pura insanidade, visto que o impacto físico deste tipo de música é um de seus grandes atrativos, além do mais, os fenômenos sonoros dos harmônicos, "sons fantasma" e batimentos produzidos por intervalos específicos requerem ao menos um aparelho razoável).
Depois deste álbum o Earth seguiu uma carreira irregular nos anos 90, inclusive lançando um diso de "rock", "Pentastar: In The Style Of Demons", um albúm formado por meias-idéias que além de um cover de Jimi Hendrix ("Peace in Mississippi"), contém também um dos experimentos mais interessantes do grupo: "Crooked Axis" um peça evocativa para quarteto de cordas. Na nova década o Earth ressurgiu devido principalmente ao sucesso de grupos como o já citado Sunn O))), porém ao invés de tentar repetir o mesmo som que era praticado no inicio da carreira, o grupo (que inclui a esposa de Carlson, Adrianne Davis na bateria) resolveu salientar características idílicas e quase ambient , além de um apego por trilhas sonoras como a do filme "Dead Man" e elementos de jazz. O último disco do grupo, "The Bees Made Honey in The Lion's Skull" foi lançado em 2008, e é definitivamente o mais diversificado e musicalmente mais satisfatório de todos os lançamentos do Earth.
Dylan Carlson