quinta-feira, 27 de maio de 2010
O Caso de Dutilleux
É estranho quando um artista que produz uma obra tão única dentro de seu meio, e cuja produção seja resultado de um longo processo de auto-crítica, que tem como finalidade a busca por uma identidade pessoal, seja não apenas largamente ignorado mas considerado um ser ultrapassado. E é exatamente isso que acontece com o compositor francês Henri Dutilleux(Angers, Maine-et-Loire, 22 de janeiro de 1916). Dutilleux é um compositor que desde que o conheci tem me fascinado com suas obras, que mesmo aos 94 anos são umas poucas, porém extremamente variadas e ricas em idéias e conceitos. Como citado anteriormente, seu processo de criação é longo e exaustivo, baseado em várias "sketches" que ao longo do tempo são esculpidas até que o resultado final seja o desejado.
O que deixa este personagem tão interessante, e o que para mim parece um pouco irreal, é o fato de Dutilleux ser um compositor que além de ter vivido as duas grandes guerras, pareceu nunca se encaixar em nenhuma corrente estética conhecida. Mesmo com o advento do serialismo, neoclassicismo, música eletrônica, minimalismo, espectralismo e muitos outros estilos conhecidos, sua música parece ter se mantido livre de qualquer influência ou modismo externo. Um feito surpreendente já que vivemos num mundo onde o que é considerado novo e excitante logo é tomado como modelo, sem ao menos antes ter sido feita alguma pesquisa mais aprofundada para ver no que exatamente isso pode contribuir ou não para aquele que o aderir.
Antes de decidir numerar suas composições, Dutilleux já havia escrito algumas peças para variadas formações instrumentais, porém o próprio achava que não eram representativas de quem ele realmente era. Sua Sonta para Piano(1946-1948),marcada como Opus 1, revelava um compositor que não se encaixava em lugar algum. Alguns anos antes do serialismo se tornar padrão, este obra possui desde as sonoridades impressionistas de Debussy até o vigor rítimico e passagens dissonantes de Bartók. Os trabalhos seguintes refinavam cada vez mais sua linguagem misteriosa e as vezes mística como em sua Segunda Sinfonia de 1959, onde a orquestra era divida em dois grupos, cada um agindo como um fantasma sobre o outro, intercalando diferentes partes, ás vezes complementares, ás vezes contrastantes. Em "Timbres, espace, mouvement" de 1978 inspirado na pintura de Van Gogh "La nuit etoilée", Dutilleux propõe por meio de combinações inusitadas de timbres e aglomerados de notas o clima fantástico da tela.
Atualmente Henri Dutilleux desfruta de um lugar singular no mundo da música: ao mesmo tempo que é considerado um dos compositores vivos mais importantes da atualidade por alguns, também é descrito como reacionário e ultrapassado por outros. Mas sejamos francos, Dutilleux é um compositor que simplesmente escreve sua música sem se preocupar se ela vai mudar o mundo ou se ela está a frente dos outros. Sua obra é um retrato absolutamente pessoal, que provavelmente só poderá ser compreendida em sua totalidade pelo mesmo, diferente de alguns compositores de sua época como Pierre Boulez, que apesar de ser um grande personagem dentro da música do século XX com obras interessantíssimas e cheias de idéias, na maior parte das vezes soa como se estivesse dentro de um grande exercício intelectual, que tem como objetivo apenas o lado exato da arte. Talvez seja apenas isso, não tenho como saber, cada um tem o direito de criar o que bem entender independente dos métodos usados, mas quando os mesmo começam a matar sua expressão é bom parar por aí.
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