quarta-feira, 15 de setembro de 2010
O som mais belo depois do silêncio
terça-feira, 14 de setembro de 2010
A Organização Segundo Webern
Dias atrás consegui a partitura das "Variações Para Piano" Op.27 do austríaco Anton Webern (1883-1945) e passei umas boas horas observando as estruturas internas daquela música considerada muito cerebral, esparsa e inaudível para muitos. Interessante notar que todas estas conclusões sobre a música de Webern ao mesmo tempo que são um grande engano também podem ser uma verdade sob vários pontos de vista.
Provavelmente o compositor mais interessante da "Segunda Escola de Viena", Webern cultivava um tipo de música extremamente breve e simetricamente muito bem organizada. Perder alguns segundos de música normalmente é perder todo o significado expressivo de movimentos inteiros, visto que tudo era tão bem compactado, e tanto o som quanto o silêncio eram distribuídos de forma igualitária no espaço.
Usando a técnica de doze sons elaborado por Schoenberg, Webern pode dar asas a sua imaginação e criar a música que sempre quis, uma que estivesse livre das leis tonais que regiam a música desde a época medieval até os seus dias, mas também uma que fosse um reflexo da organização presente na natureza. Em relação a sua "Sinfonia" Op.21, Webern comparou a série ao "urpflanze" de Goethe, uma planta primordial, da qual todos os componentes de um organismo inteiro são derivados.
O primeiro movimento da sinfonia apresenta duas partes que são repetidas, derivadas de cânones de um tema do qual a versão reversa do mesmo está presente. A série em si é organizada de um modo a apresenta todos os intervalos possíveis dentro de uma oitava (A-F#-G-Ab-E-F-B-Bb-D-C#-C-Eb), caso repartirmos ela em dois conjuntos de seis notas, podemos notar que o segundo é a transposição reversa do primeiros por um trítono. Pelo fato de que o primeiro e o último intervalo presentes nesta série são complementares (sexta maior e terça menor) as duas últimas notas de qualquer alteração da série serão sempre iguais as duas primeiras.
A obsessão por um tipo de expressão super compactada e derivada organicamente de motivos breves tem seu ápice no "Concerto Para Nove Instrumentos" Op.24. Aqui Webern criou provavelmente sua obra mais concisa e organizada, tudo que é supérfluo e desnecessário é retirado. O que resta é uma música transparente e sonoramente equilibrada entre o som e a falta dele.
A série aqui é dividia em quatro grupos de três notas, todas derivadas do primeiro conjunto:
[B-Bb-D] [Eb-G-F#] [G#-E-F] [C-C#-A]
Tomando o primeiro conjunto como o original, o segundo seria o retrógrado inverso, o terceiro o retrógrado, e o quarto o inverso. Podemos analisar da seguinte maneira também: tomando a nota B como a primeira das doze (B=0) numericamente falando a série seria assim: 0,11,3,4,8,7,9,5,6,1,2,10.Como exemplo, o terceiro conjunto (9,5,6) é o primeiro (0,11,3) ao contrário (3,11,0) e transposto por 6 (3+6=9, 11+6=5, 0+6=6).
Tentativas de analisar a obra como um todo tem causado grandes dificuldades em especialistas e teóricos, visto que, pelo fato de Webern usar sistematicamente conjuntos de três notas que se alteram entre si por meio de variações internas, a idéia da série invade todo o conjunto estrutural da obra como um todo, necessitando assim graduais reavaliações de linhas de pensamento. O esparso e silencioso segundo movimento em especial, é quase que uma fonte inesgotável de segredos no qual dias podem ser passados tentando desvenda-los.
Ao trabalhar com conjuntos de notas e organiza-las de modo a tudo possuir uma maior lógica e coerência interna, Webern se aproximou, como dito anteriormente, de uma arte que fosse um prolongamento da natureza, que segundo o próprio é baseada em idéias de "tema e variações":
"A raiz nada mais é que o caule, o caule nada mais é que a folha, e a folha nada mais que a flor: variações sobre uma idéia"