Em relação a música em si, é um pouco complicado dizer o que ela realmente é. Jazz, World Music, Música de Câmara, Fusion, New Age, Ambient, Eletrônica, Clássica, todos estes rótulos são dados para os diferentes artistas do selo, e quase sempre pode-se argumentar que são apenas periféricos e não abrangentes. Um artista "típico" da gravadora é alguém cuja música não pode ser explicada, e cujo estilo passeia livremente por estéticas e técnicas muitas vezes contraditórias. Tal abordagem para a música resulta em um tipo de som ao mesmo tempo muito pessoal e universalmente abrangente.
O selo foi fundado em 1969 por Manfred Eicher, um baixista de música clássica que tinha uma queda por jazz e música étnica. O primeiro lançamento do selo foi o disco "Free At Last" do pianista americano Mal Waldron. Os lançamentos seguintes seguiam uma linha de jazz experimental e descompromissado com formas. Dentre estes, um dos mais significativos é o debut do saxofonista norueguês Jan Garbarek (um dos artistas mais proeminentes do selo) "Afric Pepperbird" de 1970, e "Conference of The Birds" (1972) do baixista David Holland. O processo de criação dos álbuns era muito rápido (1 ou 2 dias para gravar, tudo ao vivo e com improvisos) e a mixagem era igualmente veloz (1 dia normalmente).
Com os discos seguintes o som da gravadora foi se moldando lentamente da pura energia visceral dos primeiros lançamentos para um cada vez mais contemplativo e impressionista. Em 1971 a revista canadense de jazz, CODA, em uma resenha dos discos do selo usou a frase "o som mais belo depois do silêncio" para descrever aquele tipo de música que basicamente não tinha semelhantes na época. Logo a ECM usou a frase como seu mote.
Os lançamentos dos anos 70 incluem provavelmente uma parte da mais bela e introspectiva música já lançada dentro de um grande selo. "Solstice" (Ralph Towner), "Open To Love" (Paul Bley Trio), "Timeless" (John Abercrombie), "The Köln Concert" (Keith Jarrett), "Solo" (Egberto Gismonti), "Rypdal/Vitous/Dejohnette" (Terje Rypdal) e "Dis" (Jan Garbarek).
Nos anos 80 foi lançada a "ECM New Series" dedicada a música clássica de nossa época. O primeiro lançamento foi o agora emblemático "Tabula Rasa" (1984) do compositor minimalista estoniano Arvo Pärt. O selo começava cada vez mais a expandir seus horizontes e acolher artistas provenientes do mundo inteiro, por tal razão se tornou cada vez mais difícil descrever que tipo exato de música é produzida. Artistas da ECM costumam colaborar entre si em lançamentos de duos/trios em que cada parte contribui com seu background e estilo para criar um todo completamente original. Um lançamento memorável destes pequenos conjuntos é o álbum "Folk Songs" (1979) do trio Egberto Gismonti/Charlie Haden/Jan Garbarek.
Para alguém que quer se aventurar neste tipo particular de música, "a música da ECM", qualquer um dos discos citados acima é uma ótima pedida. O problema é que depois de ouvir qualquer um deles, é impossível não ouvir outros (o que ocorreu comigo). Mas como eu mesmo posso descrever, depois de maratonas ouvindo só isso, os efeitos colaterais incluem latergia, sonolência, e um nível muito perigoso de introspecção. Sugiro moderação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário