quarta-feira, 23 de junho de 2010

Composições

Nos últimos dias ando bastante inspirado para compor algumas coisas. Claro que sempre criei música, mas grande parte das vezes são só fragmentos, ou quando estou improvisando, crio algo que soa interessante mas depois se perde. Quase toda a música que eu criei sozinho até este ponto, não esta mais entre nós. Tenho o hábito de deletar tudo depois de um tempo, pelo simples fato que não consigo ouvir mais, ou que os esboços não compreendem aos meus padrões atuais. Talvez eu seja muito crítico, ou seja chato mesmo, mas o fato de que a música que eu tenho criado nos últimos dias tem me animado muito, pode revelar que eu esteja chegando próximo (ou não) de meus objetivos musicais.

A primeira composição por assim dizer, seria uma peça de música concreta que já estou trabalhando a alguns dias. Este é um estilo de música que sempre me fascinou, e é sempre um prazer criar algo que envolva a manipulação de sons. Desde que comecei a tocar guitarra uns 5 anos atrás, mexer com aparelhos de sons e gravadores era um dos meus interesses principais como músico. Os primeiros experimentos foram em fitas K7 mesmo, por que ainda eu não tinha um grande conhecimento de softwares de música e toda a bagagem necessária para poder usa-los. Já fazia algum tempo que eu não criava nada nessa área, mas depois de ouvir algumas coisas do Luc Ferrari, senti a necessidade de bolar algo.

As outras composições incluem duas peças para um violão de cordas de náilon e outra para um de 12 cordas de aço. No momento estas são minhas prioridades, visto que são meus instrumentos principais com os quais me sinto mais confortável para expressar idéias e conceitos.

Talvez eu poste estas composições aqui quando estiverem prontas, talvez em outro lugar, independente disto avisarei a todos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Recomendação

Uma banda que tenho ouvido muito ultimamente. Vejam os outros vídeos também.

sábado, 19 de junho de 2010

Filmes


Desde que conheci o compositor japonês Toru Takemitsu, ele aos poucos foi se tornando um dos meus favoritos. Seja pela sua música completamente orgânica, pelo descompromisso com formas clássicas ou pelas inusitadas combinações de instrumentos, todos os aspectos de sua arte me fascinam. Sabendo que ele produziu inúmeras trilhas-sonoras, recentemente fui dar uma pesquisada nestes filmes, e sem dúvida os que mais me interessaram foram a "trilogia" de Hiroshi Teshigahara.

Estes três filmes seriam, "Pitfall" (1962), "Woman in The Dunes" (1964) e "The Face of Another" (1966). Os temas de desconforto existencial e problemas psicológicos são recorrentes em todos, combinados com um pouco de surrealismo e um trabalho de câmera mais livre do que os padrões hollywoodianos, os resultados finais são de significado profundo e exigem um pouco do espectador.

"Pitfall" se passa em um desolador cenário pós Segunda Guerra Mundial, onde um mineiro é assassinado na frente de seu filho após se mudar para um cidade fantasma, onde a mina local é motivo de disputa entre os dois sindicatos que a presidem. O fantasma do mineiro morto tenta solucionar seu próprio caso, enquanto a desconfiança e mais mortes rondam a comunidade.

"Woman in The Dunes" é uma história repleta de simbolismo sobre um entomologista que viaja a costa japonesa em busca de um besouro, que ele acredita ser capaz de lhe trazer prestígio na comunidade científica. Ao perceber que perdeu o ônibus que o levaria de volta a Tokyo, os moradores locais sugerem que ele passe a noite na casa de uma mulher que vive no fundo de um grande buraco, acessível apenas por uma escada. Na manhã seguinte com o sumiço da escada, percebe que os moradores querem o manter em cativeiro. A combinação de seu temor em ser esquecido, mais os sentimentos confusos que ele sente em relação a misteriosa mulher tomam conta da história.

"The Face of Another" trata da história de um homem vítima de graves queimaduras em sua face que usa bandagens para não revelar ao mundo sua deformada natureza. Ele possui uma estranha relação de co-dependência com seu psiquiatra, que lhe produz uma nova face, capaz de lhe dar uma nova vida. Tudo começa a se complicar quando sua emocionalmente perturbada esposa retorna a sua vida, lhe trazendo grandes complicações. Enquanto isso também existe uma história paralela sobre uma jovem que possui em sua face cicatrizes causados pela bomba de Nagasaki. Seu desejo é ser aceita pelo que ela é, independente de sua terrível condição, criando assim um interessante contra-ponto ao roteiro central.

A busca por uma identidade própria, alienação social, liberdade e questões morais são exploradas com maestria nestes filmes, combinadas com a trilha-sonora climática e as vezes puramente noir de Takemitsu, o resultado final é um deleite para os sentidos.


*Os três filmes estão reuinidos no box "Three Films by Hiroshi Teshigahara" (foto) que além dos mesmos, contêm um DVD bônus de conteúdo adicional. O único lugar que eu achei este box foi na Livraria Cultura (aqui), o preço obviamente é salgado e não possui legendes em português, mas para qualquer um que quiser ir além das grandes obviedades cinematográficas, tiver algum conhecimento de inglês, e estiver disposto a ver algo que realmente irá lhe fazer pensar, esta é uma grande oportunidade

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Século XXI

As vezes me parece que algumas coisas que certos indivíduos fizeram no passado pareceram ser tão boas,tão originais que hoje, nós usamos estas idéias ou ações da mesma forma, independente de todo o contexto socio-cultural emergente. Se tratando de música isto fica muito aparente. No caso da música clássica, já perdi a conta de quantos compositores a partir de um determinado momento de suas carreiras voltaram a compor obras baseados em moldes e sons do passado. Será isso apenas um modo de se acomodar? Um modo de repensar sua estética? Apenas saudosismo? Não temos como saber. O certo é que este estilo de música esta profundamente enraizado no passado, todo jovem compositor basicamente esta andando na sombra de gigantes que de uma forma ou outra ainda mantém uma influência esmagadora o onipresente sobre todos eles.

Casos famosos de compositores que fizeram a transição vanguarda-classicismo, incluem o do polonês Krzysztof Penderecki e do finlandês Magnus Lindberg. Enquanto que para o primeiro esta transição parecia ser o único caminho de continuar seguindo em frente (basta ouvir qualquer uma de suas obras do começo da carreira, elas literalmente redefinem o que é possível fazer com uma orquestra), além de suas constantes reclamacões em relação a falta de novos instrumentos, o caso de Lindberg pareceu ser uma crise estética. As obras de sua juventude composicional incluem dentre outras, "Kraft","UR", "Action-Situation-Signification", todas elevando os níveis de brutalidade e abstração nunca antes vistos no mundo da música clássica,"Kraft" em especial por contar percussão feita a partir de ferro-velho e acorde de mais de 70 notas. A partir dali como aconteceu com Penderecki se tornou difícil continuar compondo (mesmo que no caso de Lindberg, diferente do de Penderecki, ele possui-se a seu alcance toda uma nova tecnologia de computadores e processadores de som que ele usou no começo de sua carreira). Inspirado em seus conterrâneos Jean Sibelius e Einojuhani Rautavaara, adotou um estilo mais amplo, que explorasse todos os aspectos da música que incluem a harmonia e a melodia, duas coisas que praticamente não existiam em sua música.

O caso do rock sempre me pareceu ser mais decepcionante (não que os casos citados acima seja ruins, a música de ambos continua muito interessante e sincera a meus olhos). Diariamente somos bombardeados com novas bandas e artistas cuja música é apenas um pastiche de tendências passageiras+atitudes "rebeldes", cujo único objetivo e faturar em cima de jovens alienados e sem uma consciência profunda de sua existência mundana. Claro que existem grupos que vão contra estas tendências "modernas", mas grande parte deles comete o erro de se espelhar muito no que eu havia dito no primeiro parágrafo, os moldes do passado. Não que isso seja algo péssimo, o passado é uma grande fonte de inspiração, educação para qualquer um, além de ter moldado o que tudo é hoje, mas tentar usa-lo descaradamente sempre me pareceu estúpido.

O som de próprio rock também sempre foi convidativo a várias pessoas sem talento ou idéias individuais se aventurarem por ele de forma descarada. Os dogmas do estilo geraram toda uma geração de músicos que "acham" que o rock só pode ser feito de um jeito e todos os outros são errados, ao mesmo tempo que uma nova safra tenta acabar com todo isso, porém falhando miseravelmente ao não possuírem todo um background cultural além do pleno entendimento do que realmente estão fazendo. Um dos poucos grupos que ao meu ver sempre pareceu não se encaixar em nenhum dos movimentos citados acima (elemento chave para mim),e ao mesmo tempo combinar perfeitamente os dois(passado+futuro) foi o suiço Young Gods (foto).

Descrito por alguns como a primeira banda do século XXI, o YG seguiu um caminho ao mesmo tempo iconoclasta e reverencial aos mestres do passado. Ao abolir de vez as guitarras (símbolo máximo do rock) e optar por sons pré-gravados (e devidamente alterados eletronicamente) combinados com ritmos ensandecidos e vocais as vezes operáticos, as vezes diabólicos, em francês, além de toda uma estética centro-europeia, o Young Gods redefiniu o que é preciso para tocar rock puro e animalesco. Além de se aventurarem em projetos de música concreta/ambiente combinadas com projeções hi-tech, o grupo já prestou mais de uma vez homenagens aos grandes mestres. A primeira ao lançar um disco contendo interpretações do compositor alemão Kurt Weill, a segunda vez ao embarcar em um concerto multi-midia que combinava imagens restauradas de Woodstock e o grupo tocando versões emblemáticas das canções executandas no festival.

Uma banda que ao mesmo tempo desafia rótulos e consegue criar dor de cabeça tanto nos adeptos da velha guarda, quanto na nova geração, só poderia amargurar na rua da solidão, mas o grupo até hoje se mantém referência para músicos de mente aberta e de gostos amplo, apesar de ainda ser uma banda "cult".

Independente de qualquer coisa a evolução deve ao mesmo tempo sempre olhar para os dois lados, o futuro é como a morte, pode parecer terrível e sombrio mas é inevitável e devemos abraça-lo, ao mesmo tempo que o olhamos com toda a compreensão que temos da história até aquele ponto, por que ao ignorar o inevitável ou o que nos moldou como somos, revelamos uma grande ignorância da nossa parte. Toda a geração possui problemas que só serão resolvidas pelos próprios. Não podemos nos iludir que os do passado foram mais fáceis de serem resolvidos porque as respostas pareciam óbvias, devemos enxergar tudo por uma ótica mais abrangente e aceitável a erros, porque só com eles temos a compreensão.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Recomeçar


De uns tempos para cá, reparei que a coisa mais difícil na música é trabalhar limitando-se a um instrumento solo. Obviamente que baseando suas fontes sonoras em um único instrumento o indivíduo é obrigado a ser criativo, pensar além das óbvias capacidades do referido instrumento, tentar superar limitações técnicas, e o músico deve fazer o que o poeta Garcia Lorca declarou certa vez (obviamente esta frase se refere a poetas, mas cabe muito bem aqui nesta situação):"[...] ir a caçada limpo e sereno, disfarçado até. Manter-se firme contra as miragens a vigiará cautelosamente as carnes palpitantes e reais que se conciliam com o plano [...] que tem em mente".

Apesar das grandes dificuldades de se trabalhar assim, existe algo que apenas um instrumento solo pode revelar ao ouvinte: a verdadeira face do autor. É quase que como se ele estivesse ali, ao seu lado, sussurrando em seus ouvidos coisas que ele nunca poderia revelar ao mundo por meio da linguagem falada, sensações e sentimentos que só podem ser descritos como abstratos e de difícil associação com o mundo real. É possível saber muito mais de uma pessoa analisando ela apenas por sua arte, pra mim o grande trunfo desse meio. A natureza humana é revelado de uma forma nua e crua, mesmo que ela seja para um consenso geral, impenetrável e terrível. De todos estes artistas que conheço provavelmente poucos conseguiram se mostrar ao mundo como o catalão Federico Mompou (1893-1987).

Mompou passou grande parte de sua longeva vida dedicando-se ao piano, para qual compôs inúmeras peças. São obras semelhantes a pequenas miniaturas, convidativas a inúmeras interpretações e extremamente intimas em sua natureza. Comentando certa vez sobre suas obras agrupadas sobre o nome "Musica callada", mompou declarou: "[...] esta música não possui ar nem luz. É uma fraca batida de coração, você não pode pedir que alcance mais que algumas polegadas no espaço, mas sua missão é alcançar as profundezas de nossa alma e as regiões secretas de nosso espirito. Esta música é calada porque você ouve junto com ela. Contido e reservado[...]".

O gosta pelas miniaturas, além da influência catalã,se deve ao contato com a música do compositor francês Erik Satie (1866-1925). Após se aprofundar em sua música, Mompou teve o que ele mesmo chamou de um "recomeço", ou seja um retorno a expressão primitiva, pura e clara da natureza humana pelos meios mais simples e diretos. Alguns aspectos técnicos de Satie também foram agregados em seu estilo, como o abandono de armaduras e das divisões de compasso em suas partituras, para deixa-las livres de compromisso com tonalidades, e que o musico que deseja-se executa-las não apenas "tocasse" mas as "interpretasse" segundo seu gosto.

Vivendo em um mundo onde tudo parece estar cada vez mais bombástico e exagerado, a busca por uma expressão verdadeiramente fiel de um artista esta cada vez mais difícil, e normalmente quando a achamos, vemos que não passa de algo diluído e puramente superficial. Um artista como Mompou que conseguiu por meio de sua própria visão da música,do mundo e do ser humano, elaborar algo ao mesmo tempo tão simples, porém tão complexo em suas idiossincrasias, deveria gozar de um prestigio grande em seu meio, mas como o mundo não é perfeito, sua arte é conhecida e admirada por poucos.

(Para todos aqueles que querem se aprofundar neste grande músico, sugiro que procurem pela série "Mompou Plays Mompou" são 5 volumes que tem próprio interpretando suas obras para piano de forma magistral e muito bem gravado, um verdadeiro achado artístico.)